EDUKATORS: UM FILME SOBRE UMA GERAÇÃO NA ENCRUZILHADA
“Eu só queria ser livre”. A frase sai da boca de uma das personagens centrais de Edukators, massacrada sob uma dívida com um milionário que vai levar 8 anos para pagar. Três jovens em um país de primeiro mundo, sub-embregados e sem convites para a “festa” da Alemanha reunificada estão no centro da trama. O sentimento anti-capitalista dos três salta da tela de forma visceral. A denúncia do acúmulo quase inutilizável de riqueza é feita sem apelos sentimentalóides, sem imagens dramáticas de situações extremas que geram compaixão. O capitalismo não é rejeitado porque não tem “pena” dos pobres, mas por sua natureza intrinsecamente coisificadora, por ser uma máquina de transformar até a rebelião contra ele mesmo em mercadoria (você pode escolher em vitrines os símbolos da rebeldia dos anos 70), pela idiotia dos milhões que passam suas horas livres em frente à TV, pela interdição da liberdade.
Apenas algumas fotos no cenário e um diálogo fazem supor que os edukators participaram das grandes manifestações anti-globalização. Expressam a encruzilhada dessa geração: a rejeição ao sistema vem junto com a mais absoluta descrença nas formas institucionalizadas de luta política. Partidos e movimentos tradicionais nem estão no leque de opções dos personagens. A citação à geração pós-68 que, ao apagar das chamas e no desmontar das barricadas concluiu pela ação direta, armada, violenta é clara. Mas os três já são filhos também do fracasso dos 70. Os rebeldes da época viraram ministros e executivos. E é o acaso e o instinto de sobrevivência que os acaba levando ao seqüestro de um deles, obrigando-os ao desvio da rota “pedagógica” e pacífica que pretendiam seguir.
As belíssimas paisagens da estrada e do “cativeiro” contrastam com o mundo repressivo e mercantilizado da cidade. A “máquina de oxigênio” é trocada pela cabana na montanha. Em trama paralela, a ligação afetiva e sexual existente entre os três recebe um tratamento de uma sensibilidade incomum.
Sem nenhuma estratégia definida e atravessados por um sentimento humanista, o que fazer com o cada vez mais simpático seqüestrado? Os diálogos com ele são reveladores da máquina de consumir energia rebelde que é o capitalismo. Afinal, também foi radical, também fez experiências com drogas, também experimentou a liberdade sexual .... Depois, casou, teve filhos, a razão foi falando mais alto ... Nas falas do executivo o idealismo e a radicalidade dos jovens aparecem como uma fase de um ciclo educativo, uma espécie de preparação para a “vida real”. A encruzilhada em que os três se meteram transforma-se na opção entre o retorno à violência “exemplar” de trinta anos atrás e a rendição incondicional dos dias que correm. Quando rejeitam a primeira saída, parecem condenados à segunda. Mas, assim como para a crise de relacionamento pessoal entre os três, há saídas novas e inesperadas que não a rendição.
Edukators não é um filme sobre pessoas boas e más, leais e traidores, com e sem princípios. É sobre um conflito não resolvido, sobre contas que não foram acertadas, sobre um jogo em relação ao qual a violência não é uma componente estranha, sobre uma geração que viu falharem mil saídas, mas quer saídas. Sobre a força das circunstâncias que engolem uns e sobre a força das escolhas dos que não querem ser engolidos. “Algumas pessoas não mudam nunca”. Ainda bem.